terça-feira, 21 de agosto de 2007

mídia alternativa em debate

Mídia alternativa em debate na Casa dos Bancários
Fonte: SindBancários
Publicado em: 20/8/2007 - 14:33

A Casa dos Bancários realiza na próxima quarta-feira, dia 22, um debate sobre Mídia Alternativa e Disputa de Hegemonia, a partir das 19h. O moderador Chico Vicente, metroviário e ex-presidente municipal do Partido dos Trabalhadores (PT), terá como convidados para discutir o tema o presidente do SindBancários, Juberlei Bacelo, os jornalistas Marco Aurélio Weissheimer e Kátia Marko, e o diretor da Abraço, Josué Lopes.

A informação e a comunicação constituem-se em elementos essenciais da vida moderna. A instantaneidade das notícias, a velocidade e a freqüência das informações moldam um mundo globalizado e em permanente disputa.


Os grandes meios de comunicação de massa são dominados pelos donos do poder, os quais se utilizam destas técnicas para vender mercadorias, ideologias e valores culturais, visando o lucro e o poder. Porém, diversos recursos, tais como, blogs, orkuts, sites, messengers, imprensa sindical, rádios e tvs comunitárias, jornais independentes e outros meios são utilizados para também informar e comunicar.


A potencialização destas pequenas estruturas na disputa de hegemonia na sociedade, a estratégia para combater o monopólio e a ditadura da mídia nos dias atuais serão debatidos pelos convidados. Você é nosso convidado.

Venha participar!


LOCAL: Casa dos Bancários (Rua General Câmara, 424), em Porto Alegre.

viram a notinha na capa?

Repararam na pequena notinha, à direita, na capa da 0Hora de hoje sobre terem sido encontrados selos na casa da assessora da Yeda?

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

bastidores do Cansei


Hebe se irrita com pergunta e Ivete se cala em ato
Sexta, 17 de agosto de 2007, 15h32
Raphael Prado (foto e texto) - Terra Magazine


"Estou vendo pessoas de cabelos grisalhos. Somos do tempo em que não nos trancávamos em casa, que não existia tanta gente para mexer em nosso patrimônio." Assim o locutor anuncia o início do protesto do movimento Cansei nesta sexta-feira, que lembra um mês do acidente com o Airbus da TAM.

O público - as estimativas variam de duas a cinco mil pessoas - segundo a Polícia Militar, ocupa a Praça da Sé, no centro de São Paulo. Ali estão todos divididos em dois grandes grupos. O palco, de costas para a Catedral da Sé, dentro da qual a realização do protesto foi vetada pela Arquidiocese, separa a multidão de homens, mulheres, negros e brancos, ricos e pobres. Na escadaria da Catedral, sentados e com guarda-sóis, senhoras maquiadas, homens de terno e jovens de óculos escuros de grife.

Aos poucos, os artistas chegam. Com eles os gritos de "Fora imprensa", em direção a repórteres e cinegrafistas que impedem o povo de cumprir o objetivo principal de estar ali: ver as celebridades.

- E o Paulinho Vilhena, não vinha? - pergunta a jovem de câmera em punho.

- Quem é aquele ali? - questiona outro.

Hebe Camargo chega. Camiseta com a bandeira do Brasil e mais um par de óculos de grife. Gracinha de sorriso.

Hebe não contava com a pergunta ácida de um cidadão que se recusa a sair da "área vip", com argumento de que está em uma praça pública:

- E o Maluf, que você apoiou tanto tempo?

Irritada, Hebe põe o dedo em riste:

- Eu cresci às minhas próprias custas, às custas do meu trabalho.

O cidadão é o engenheiro José Carlos Caldeira Braga, de 70 anos. Usa um broche com as bandeiras do Brasil e da Venezuela. É ironizado pelos advogados, conselheiros da OAB-SP e outros elegantes senhores da "área vip":

- Vou até tirar uma foto. Vira pra cá, ô Evo! - Confundindo o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, com o da Bolívia, Evo Morales.

Luiz D'Urso, presidente da OAB-SP, discursa. Reitera que o movimento é apartidário. Pede solidariedade às famílias das vítimas do vôo da TAM a 5 minutos das 13h. Os familiares das vítimas, como relata Vagner Magalhães, do Terra, sentiram-se "usados" no ato. Leia mais aqui.

Continuam as reclamações do público com os repórteres, que tapam a visão para as celebridades.

Um minuto de silêncio. Seguem preces e orações. Um padre, um rabino e um pastor metodista. Agnaldo Rayol canta o hino nacional. Sem Ivete Sangalo, como havia sido anunciado, para frustração geral.

Ivete que, em 2001, participou de abaixo-assinado em apoio ao senador Antonio Carlos Magalhães, quando este violou o painel de votação do Senado (leia aqui trecho do documento). A cantora costumava também fazer reverências a líderes carlistas na passarela do Campo Grande durante o Carnaval de Salvador.

Um tímido "Fora Lula" é puxado por alguns. É abafado por um "Viva o Brasil". Algumas fotos no palco e as celebridades começam a sair. Os manifestantes da praça da Sé deixam o chão para subir em escadas, pilares e muretas.

Hebe vai deixando o ato. É questionada se a sociedade, os pobres, estão participando do movimento.

- Tá todo mundo aí. - responde, ainda com um resquício de mau humor diante das perguntas.

Sai Ivete Sangalo. Impossível chegar até ela. Muitos querem tirar fotos. Um cidadão quer entregar uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Não consegue.

No corredor de isolamento que ligava o palco à sede da OAB, a uma distância de cerca de 400 metros, os artistas se despedem. Um conselheiro da Ordem conversa com outro:

- Foi bom, né?

- Só foi ruim por causa da Ivete. Podia ter cantado uma, né?

Hebe Camargo entra em seu Mercedes e se despede do povo. Deixa chorando uma humilde senhora, que se cansou de esperar para cumprimentá-la.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Banrisul lucra R$ 725,1 milhões no semestre

Estima-se que a venda de cerca de 42% das ações do Banrisul "renderá" cerca de R$ 2 bilhões. Desse total, cerca de R$ 800 milhões referem-se a ações primárias que ficam com o Banrisul, como incremento de capital. Ao Estado, portanto, serão repassados cerca de R$ 1,2 bilhões de reais.

Recentemente, o banco divulgou seu balanço semestral: lucro de R$ 725,1 milhões, 283,9% superior ao apurado no mesmo período de 2006

Com a venda das ações, daqui pra frente o banco terá que repassar cerca de 40% de seu faturamento para os grandes investidores privados internacionais que compraram ações, certo? Lamentavelmente, sim.

Pois bem, se o banco seguir com lucratividade semelhante à divulgada esse semestre, em poucos anos o valor acumulado que o caixa único do Estado deixará de receber será maior do que o valor "capitalizado". É só fazer os cálculos.

Portanto, de todos os ângulos que se olha a questão, a venda das ações do Banrisul comandada por Yeda foi péssima para os interesses do povo do Rio Grande do Sul.

Além disso, é evidente que de nada adianta, para a sociedade gaúcha, ter um banco estatal com lógica privada. Temos que lutar para que o Banrisul seja cada vez mais um banco público, exercendo sua função social, auxiliando no desenvolvimento do Estado, distribuindo riqueza, fomentando a economia...

Evidentemente, essa não é a visão dos investidores internacionais que compraram as ações e vão participar da gestão do banco...

sejamos didáticos (ou: Elvino vai na couve)


Por todo o histórico citado abaixo, vê-se que foi de uma felicidade imensa a fala do deputado Elvino Bohn Gass, durante a sessão de ontem. Em uma intervenção extremamente didática, o parlamentar afirmou que o problema é exatamente que os governistas anunciam a capitalização do Banrisul, pois capitalizar, no dicionários destes, significa privatizar.

No link abaixo, recente carta aberta de Elvino aos bancários.

Carta Bohn Gass


Foto: Caco Argemi

Banrisul e CRT: a farsa da capitalização


A grande mídia gaúcha tem comparado a sessão de ontem na assembléia legislativa, que buscou legitimar a venda das ações do Banrisul feita pelo governo Yeda há alguns dias, com as manifestações ocorridas na mesma casa na época da privatização da CRT. Infelizmente, como já era esperado, na repercussão das errebeesses da vida, as semelhanças se resumem à "baderna" feita pelos manifestantes.

Na verdade, há realmente muitas semelhanças nos processos de capitalização (que culminou na privatização) da CRT e do banco público dos gaúchos. A começar pelos partidos que governavam com Britto e hoje governam com Yeda. Aliás, os mesmos que apoiavam FHC quando este vendeu a Vale a preço de banana.

Vejamos mais semelhanças, a partir dos anais de audiência pública (a foto acima é também desse link) ocorrida 19/11/1996 na Assembléia Legislativa, em que se debateu proposta do governo Britto de capitalização da CRT (venda de 35% das ações ordinárias).

Primeiramente, a tentativa de despolitização da própria política...

O SR ASSIS ROBERTO SANCHOTENE DE SOUZA (então secretário de Energia, Minas e Comunicações) – Acredito que se entrarmos na questão ideológica, não vamos tirar o proveito que esta reunião merece, bem como esta platéia (...)

rebatida por Koutzii...
O SR FLÁVIO KOUTZII (PT)a formulação geral que o levou a considerar inoportuna a presença de conteúdos ideológicos leva-me a fazer uma observação quase primária: não discussão sem ideologia, isso não existe e nunca existiu. Nenhum dos presentes, nem os estritamente técnicos, têm opiniões técnicas apenas sobre uma reforma profunda da estrutura do Estado. Se esse é o tema geral em que está mergulhado o tema da CRT, mesclam-se aí concepções de política pública, concepções de direitos do cidadão. Isso é eminentemente uma concepção mais complexa, oportuna e legítima.

Também pela postura da bancada de oposição, que, como hoje, alertava a sociedade gaúcha da real intenção do governo:

A SRA JUSSARA CONY (PC do B)Esse é um primeiro momento de debates, até porque – pelo menos no meu entendimento – pairam muitas dúvidas em relação à forma como o Governo do Estado está entregando a CRT, abrindo suas portas para a total privatização (...)

O SR FLÁVIO KOUTZII (PT) – Particularmente tenho sustentado que o que caracteriza o Governo Britto, de forma muito resumida, é a sistemática venda de patrimônio (...)

O SR POMPEO DE MATTOS (PDT) O secretário manifestou-se no sentido de que o governo jamais vai ignorar a lei no sentido de vender mais de 51% das ações sem ouvir a assembléia. Tenho a impressão de que logo, logo vão ouvir a Assembléia (...)

Entretanto, os parlamentares oposicionistas, como hoje, eram acusados de fazer um falso debate. No próprio segundo turno das eleições de 1994, foi amplamente divulgada uma carta do candidato Antônio Britto "desmentindo boatos da Frente Popular". Um dos compromissos assumidos nessa carta era não vender ou tansferir participação do Governo do Estado no capital da CRT. E, claro, o discurso/manobra de abertura de capital, ou capitalização, nunca privatização.

O SR ASSIS ROBERTO SANCHOTENE DE SOUZAEstá claro, porque estamos repetindo pela terceira vez (...) quanto ao controle acionário, podemos assegurar-lhe que, em nenhum momento, esa dúvida nos passa pela cabeça. Temos um compromisso com a sociedade do Rio Grande do Sul e com uma lei aprovada por esta Casa no sentido de que o Estado, em nenhum momento, perderá p controle acionário da empresa.

IDEM: Gostaria de esclarecer que todos os compromissos que o governador Antônio Britto assumiu nesta carta continua de pé (...) O governador não revisou nenhum compromisso. Todos os compromissos que o governador assumiu na carta que enviou aos funcionários da CRT estão sendo e serão cumpridos.

O SR PAULO ODONE (PMDB) No governo passado, esta Casa formou uma comissão para debater o seguinte tema: a CRT e a sua privatização ou abertura do seu capital (...) não estamos aqui julgando se devemos ter um Estado dono do serviço público ou não (...) quando o Governador Antônio Britto mandou essa lei para esta Casa, no ano passado (...), alertou-nos para o fato de que a maioria do partido não iria querer privatizar a CRT.

IDEM: O pedido para esta audiência pública surgiu da necessidade de esclarecimentos sobre denúncias ou sobre irregularidades que o governo vinha cometendo nesse processo de abertura de capital da CRT, embora o chamem de privatização da CRT.

O SR CRISTIANO TATSCH ( então presidente da CRT) No que diz respeito ao autofinanciamento e às capitalizações, estamos vendo, mais uma vez, que o governo procurou colocar a empresa dentro do processo produtivo (...)



segunda-feira, 6 de agosto de 2007

A invenção da crise


Introdução da entrevista abaixo:

A invenção da crise

Marilena Chauí

Era o fim da tarde. Estava num hotel-fazenda com meus netos e resolvemos ver jogos do PAN-2007. Liguei a televisão e “caí” num canal que exibia um incêndio de imensas proporções enquanto a voz de um locutor dizia: “o governo matou 200 pessoas!”. Fiquei estarrecida e minha primeira reação foi típica de sul-americana dos anos 1960: “Meu Deus! É como o La Moneda e Allende! Lula deve estar cercado no Palácio do Planalto, há um golpe de Estado e já houve 200 mortes! Que vamos fazer?”. Mas enquanto meu pensamento tomava essa direção, a imagem na tela mudou. Apareceu um locutor que bradava: “Mais um crime do apagão aéreo! O avião da TAM não tinha condições para pousar em Congonhas porque a pista não está pronta e porque não há espaço para manobra! Mais um crime do governo!”. Só então compreendi que se tratava de um acidente aéreo e que o locutor responsabilizava o governo pelo acontecimento.
Fiquei ainda mais perplexa: como o locutor sabia qual a causa do acidente, se esta só é conhecida depois da abertura da caixa preta do avião? Enquanto me fazia esta pergunta e angustiada desejava saber o que havia ocorrido, pensando no desespero dos passageiros e de suas famílias, o locutor, por algum motivo, mudou a locução: surgiram expressões como “parece que”, “pode ser que”, “quando se souber o que aconteceu”. E eu me disse: mas se é assim, como ele pôde dizer, há alguns segundos, que o governo cometeu o crime de assassinar 200 pessoas?
Mudei de canal. E a situação se repetia em todos os canais: primeiro, a afirmação peremptória de que se tratava de mais um episódio da crise do apagão aéreo; a seguir, que se tratava de mais uma calamidade produzida pelo governo Lula; em seguida, que não se sabia se a causa do acidente havia sido a pista molhada ou uma falha do avião. Pessoas eram entrevistadas para dizer (of course) o que sentiam. Autoridades de todo tipo eram trazidas à tela para explicar porque Lula era responsável pelo acidente. ETC.
Mas de todo o aparato espetacular de exploração da tragédia e de absoluto silêncio sobre a empresa aérea, que conta em seu passivo com mais de 10 acidentes entre 1996 e 2007 (incluindo o que matou o próprio dono da empresa!), o que me deixou paralisada foi o instante inicial do “noticiário”, quando vi a primeira imagem e ouvi a primeira fala, isto é, a presença da guerra civil e do golpe de Estado. A desaparição da imagem do incêndio e a mudança das falas nos dias seguintes não alteraram minha primeira impressão: a grande mídia foi montando, primeiro, um cenário de guerra e, depois, de golpe de Estado. E, em certos casos, a atitude chega ao ridículo, estabelecendo relações entre o acidente da TAM, o governo Lula, Marx, Lênin e Stálin, mais o Muro de Berlim!!!

Marilena Chauí

Entrevista exclusiva ao blog Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim, em 30/07/2007.

1) Que papel desempenhou a mídia brasileira – especialmente a televisão – na “crise aérea” ?

Meu relato já lhe dá uma idéia do que penso. O que mais impressiona é a velocidade com que a mídia determinou as causas do acidente, apontou responsáveis e definiu soluções urgentes e drásticas!

Mas acho que vale a pena lembrar o essencial: desde o governo FHC, há o projeto de privatizar a INFRAERO e o acidente da GOL, mais a atitude compreensível de auto-proteção assumida pelos controladores aéreos foi o estopim para iniciar uma campanha focalizando a incompetência governamental, de maneira a transformar numa verdade de fato e de direito a necessidade da privatização. É disso que se trata no plano dos interesses econômicos.

No plano político, a invenção da crise aérea simplesmente é mais um episódio do fato da mídia e certos setores oposicionistas não admitirem a legitimidade da reeleição de Lula, vista como ofensa pessoal à competência técnica e política da auto-denominada elite brasileira. É bom a gente não esquecer de uma afirmação paradigmática da mídia e desses setores oposicionistas no dia seguinte às eleições: “o povo votou contra a opinião pública”. Eu acho essa afirmação o mais perfeito auto-retrato da mídia brasileira!


Do ponto de vista da operação midiática propriamente dita, é interessante observar que a mídia:

a) não dá às greves dos funcionários do INSS a mesma relevância que recebem as ações dos controladores aéreos, embora os efeitos sobre as vidas humanas sejam muito mais graves no primeiro caso do que no segundo. Mas pobre trabalhador nasceu para sofrer e morrer, não é? Já a classe média e a elite... bem, é diferente, não? A dedicação quase religiosa da mídia com os atrasos de aviões chega a ser comovente...
b) noticiou o acidente da TAM dando explicações como se fossem favas contadas sobre as causas do acontecimento antes que qualquer informação segura pudesse ser transmitida à população. Primeiro, atribuiu o acidente à pista de Congonhas e à Infraero; depois aos excessos da malha aérea, responsabilizando a ANAC; em seguida, depois de haver deixado bem marcada a responsabilidade do governo, levantou suspeitas sobre o piloto (novato, desconhecia o AIRBUS, errou na velocidade de pouso, etc.); passou como gato sobre brasas acerca da responsabilidade da TAM; fez afirmações sobre a extensão da pista principal de Congonhas como insuficiente, deixando de lado, por exemplo, que a de Santos Dumont e Pampulha são menos extensas;
c) estabeleceu ligações entre o acidente da GOL e o da TAM e de ambos com a posição dos controladores aéreos, da ANAC e da INFRAERO, levando a população a identificar fatos diferentes e sem ligação entre si, criando o sentimento de pânico, insegurança, cólera e indignação contra o governo Lula. Esses sentimentos foram aumentados com a foto de Marco Aurélio Garcia e a repetição descontextualizada de frases de Guido Mântega, Marta Suplicy e Lula;
d) definiu uma cronologia para a crise aérea dando-lhe um começo no acidente da GOL, quando se sabe que há mais de 15 anos o setor aéreo vem tendo problemas variados; em suma, produziu uma cronologia que faz coincidir os problemas do setor e o governo Lula;
e) vem deixando em silêncio a péssima atuação da TAM, que conta em seu passivo com mais de 10 acidentes, desde 1996, três deles ocorridos em Congonhas e um deles em Paris – e não dá para dizer que as condições áreas da França são inadequadas! A supervisão dos aparelhos é feita em menos de 15 minutos; defeitos são considerados sem gravidade e a decolagem autorizada, resultando em retornos quase imediatos ao ponto de partida; os pilotos voam mais tempo do que o recomendado; a rotatividade da mão de obra é intensa; a carga excede o peso permitido (consta que o AIRBUS acidentado estava com excesso de combustível por haver enchido os tanques acima do recomendado porque o combustível é mais barato em Porto Alegre!); etc.
f) não dá (e sobretudo não deu nos primeiros dias) nenhuma atenção ao fato de que Congonhas, entre 1986 e 1994, só fazia ponte-aérea e, sem mais essa nem aquela, desde 1995 passou a fazer até operações internacionais. Por que será? Que aconteceu a partir de 1995?
g) não dá (e sobretudo não deu nos primeiros dias) nenhuma atenção ao fato de que, desde os anos 1980, a exploração imobiliária (ou o eterno poder das construtoras) verticalizou gigantesca e criminosamente Moema, Indianópolis, Campo Belo e Jabaquara. Quando Erundina foi prefeita, lembro-me da grande quantidade de edifícios projetados para esses bairros e cuja construção foi proibida ou embargada, mas que subiram aos céus sem problema a partir de 1993. Por que? Qual a responsabilidade da Prefeitura e da Câmara Municipal?

2) Como a sra. avalia a reação do Governo Lula à atuação da mídia nesse episódio ?

Fraca e decepcionante, como no caso do mensalão. Demorou para se manifestar. Quando o fez, se colocou na defensiva.

O que teria sido politicamente eficaz e adequado?
Já na primeira hora, entrar em rede nacional de rádio e televisão e expor à população o ocorrido, as providências tomadas e a necessidade de aguardar informações seguras.
Todos os dias, no chamado “horário nobre”, entrar em rede nacional de rádio e televisão, expondo as ações do dia não só no tocante ao acidente, mas também com relação às questões aéreas nacionais, além de apresentar novos fatos e novas informações, desmentindo informações incorretas e alertando a população sobre isso.
Mobilizar os parlamentares e o PT para uma ação nacional de informação, esclarecimento e refutação imediata de notícias incorretas.


3) Em “Leituras da Crise”, a sra. discute a tentativa do impeachment do Presidente na chamada “crise do mensalão”. A sra. vê sinais de uma nova tentativa de impeachment ?
Sim. Como eu disse acima, a mídia e setores da oposição política ainda estão inconformados com a reeleição de Lula e farão durante o segundo mandato o que fizeram durante o primeiro, isto é, a tentativa contínua de um golpe de Estado. Tentaram desestabilizar o governo usando como arma as ações da Polícia Federal e do Ministério Público e, depois, com o caso Renan (aliás, o governador Requião foi o único que teve a presença de espírito e a coragem política para indagar porque não houve uma CPI contra o presidente FHC, cuja história privada, durante a presidência, se assemelhou muito à de Renan Calheiros). Como nenhuma das duas tentativas funcionou, esperou-se que a “crise aérea” fizesse o serviço. Como isso não vai acontecer, vamos ver qual vai ser a próxima tentativa, pois isso vai ser assim durante quatro anos.

4) No fim de “Simulacro e Poder” a sra. diz: “... essa ideologia opera com a figura do especialista. Os meios de comunicação não só se alimentam dessa figura, mas não cessam de instituí-la como sujeito da comunicação ...Ideologicamente ... o poder da comunicação de massa não é igual ou semelhante ao da antiga ideologia burguesa, que realizava uma inculcação de valores e idéias. Dizendo-nos o que devemos pensar, sentir, falar e fazer, (a comunicação de massa) afirma que nada sabemos e seu poder se realiza como intimidação social e cultural... O que torna possível essa intimidação e a eficácia da operação dos especialistas ... é ... a presença cotidiana ... em todas as esferas da nossa existência ... essa capacidade é a competência suprema, a forma máxima de poder: o de criar realidade. Esse poder é ainda maior (igualando-se ao divino) quando, graças a instrumentos técnico-cientificos, essa realidade é virtual ou a virtualidade é real...” Qual a relação entre esse trecho de “Simulacro e Poder” e o que se passa hoje ?

Antes de me referir à questão do virtual, gostaria de enfatizar a figura do especialista competente, isto é, daquele é supostamente portador de um saber que os demais não possuem e que lhe dá o direito e o poder de mandar, comandar, impor suas idéias e valores e dirigir as consciências e ações dos demais. Como vivemos na chamada “sociedade do conhecimento”, isto é, uma sociedade na qual a ciência e a técnica se tornaram forças produtivas do capital e na qual a posse de conhecimentos ou de informações determina a quantidade e extensão de poder, o especialista tem um poder de intimidação social porque aparece como aquele que possui o conhecimento verdadeiro, enquanto os demais são ignorantes e incompetentes. Do ponto de vista da democracia, essa situação exige o trabalho incessante dos movimentos sociais e populares para afirmar sua competência social e política, reivindicar e defender direitos que assegurem sua validade como cidadãos e como seres humanos, que não podem ser invalidados pela ideologia da competência tecno-científica. E é essa suposta competência que aparece com toda força na produção do virtual.
Em “Simulacro e poder” em me refiro ao virtual produzido pelos novos meios tecnológicos de informação e comunicação, que substituem o espaço e o tempo reais – isto é, da percepção, da vivência individual e coletiva, da geografia e da história – por um espaço e um tempo reduzidos a um única dimensão; o espaço virtual só possui a dimensão do “aqui” (não há o distante e o próximo, o invisível, a diferença) e o tempo virtual só possui a dimensão do “agora” (não há o antes e o depois, o passado e o futuro, o escoamento e o fluxo temporais). Ora, as experiências de espaço e tempo são determinantes de noções como identidade e alteridade, subjetividade e objetividade, causalidade, necessidade, liberdade, finalidade, acaso, contingência, desejo, virtude, vício, etc. Isso significa que as categorias de que dispomos para pensar o mundo deixam de ser operantes quando passamos para o plano do virtual e este substitui a realidade por algo outro, ou uma “realidade” outra, produzida exclusivamente por meios tecnológicos. Como se trata da produção de uma “realidade”, trata-se de um ato de criação, que outrora as religiões atribuíam ao divino e a filosofia atribuía à natureza. Os meios de informação e comunicação julgam ter tomado o lugar dos deuses e da natureza e por isso são onipotentes – ou melhor, acreditam-se onipotentes. Penso que a mídia absorve esse aspecto metafísico das novas tecnologias, o transforma em ideologia e se coloca a si mesma como poder criador de realidade: o mundo é o que está na tela da televisão, do computador ou do celular. A “crise aérea” a partir da encenação espetacularizada da tragédia do acidente do avião da TAM é um caso exemplar de criação de “realidade”.
Mas essa onipotência da mídia tem sido contestada socialmente, politicamente e artisticamente: o que se passa hoje no Iraque, a revolta dos jovens franceses de origem africana e oriental, o fracasso do golpe contra Chavez, na Venezuela, a “crise do mensalão” e a “crise aérea”, no Brasil, um livro como “O apanhador de pipas” ou um filme como “Filhos da Esperança” são bons exemplos da contestação dessa onipotência midiática fundada na tecnologia do virtual.

Diário Gauche

A partir de hoje, leia o Diário Gauche em www.diariogauche.blogspot.com
"O importante hoje na política não é tornar as pessoas livres, mas sim levá-las a pensar que o são". Jean Baudrillard (apresentação do blog)

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

A mercantilização do Banrisul

O líder da bancada do PT, Raul Pont, classificou de afronta à Assembléia Legislativa a venda das ações do Banrisul sem prévia aprovação dos fundos para os quais os recursos provenientes da operação seriam destinados. Segundo o deputado, o governo do Estado se aproveitou do recesso parlamentar para apressar a liquidação de ativos do banco e tornar a transação um fato consumado.

"A pressa do governo revela que seu real objetivo é privatizar o Banrisul. Se o propósito fosse custear as aposentadorias dos servidores, não haveria a necessidade de colocar ações no mercado. Bastaria a utilização de um percentual do montante do lucro detido pelo Estado", argumentou o petista.

Um substituto da bancada do PT aos projetos que criam os chamados fundos previdenciários tramita no Legislativo com este objetivo. A proposra estabelece uma fonte permanente para o financiamento das aposentadoria do funcionalismo sem vender patrimônio público. O projeto destina 50% das receitas oriundas dos rendimentos do Banrisul (juros sobre capitais) para o fundo de previdência e proíbe a venda de ativos que possam reduzir estas receitas.

Na tribuna, Pont fez um apelo para que os deputados que assinaram o requerimento para a criação da Frente de Defesa do Banrisul Público para aprovem a proposta alternativa. "Honrem as assinaturas e defendam o Banrisul deste golpe orquestrado pelo governo do Estado. Podemos impedir que ele se confirme, aprovando uma proposta que garante a previdência dos servidores e mantêm o caráter público do banco", apelou.

O líder do PT afirmou , ainda, que os fundos propostos pelo Executivo não são previdenciários, mas financeiros. Segundo ele, tudo indica que os recursos oriundos da venda das ações acabarão na vala comum do caixa único do Estado. "O projeto do governo confere à Secretaria da Fazenda a missão de administrar os fundos e não ao Instututo de Previdência do Estado, que deveria ser transformado em órgão gestor e administrar os recursos", apontou.

Pont alertou que os recursos do Fundo de Previdência do governo Yeda poderão ter o mesmo destino que os R$ 600 milhões do Fundo do Magistério, criado pelo governo Britto. "Quatro meses antes do governo Britto terminar, os recursos diluiram-se no caixa único", lembrou.

Privatização à vista

As semelhanças entre o processo de privatização de outras estatais gaúchas e a venda de ativos do Banrisul também foram lembradas pelo líder do PT. "Quando o governo vendeu 35% da CRT dizia que a transação tinha o objetivo de fortalecer a empresa. Seis meses depois, privatizou integralmente a telefonia no Rio Grande do Sul com enormes prejuízos para a população. A tarifa básica que era de R$ 0,61 chega a R$ 40,00 atualmente", comparou.

A venda de 47% das ações preferenciais do Banrisul, segundo o petista, abre o caminho para a constituição de um perfil de banco privado, acarretando danos aos gaúchos. Ele prevê que o abandono do caráter público da instituição poderá gerar um processo de fechamento de agências pouco lucrativas, expulsão das camadas mais pobres e redução das linhas de crédito para a agricultura familiar.

"O governo está trabalhando para imprimir no Banrisul uma lógica mercantil com predominância da especulação financeira sobre políticas de fomento ao desenvolvimento do Estado", finalizou.

fonte: Olga Arnt | PT
publicado em: SindBancários

Quem nos salva da bondade dos bons?

No último fim de semana aconteceu, em São Paulo, a Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramos Financeiro. O encontro é preparatório à campanha salarial (a data base dos bancários é 1º de setembro).

Dentre as resoluções, a aprovação da contratação da renda variável. Para que conhece o assunto, sabe o quanto ele é polêmico. Para mim, essa aprovação demonstra o quanto é necessário que o movimento sindical recupere suas referências, pois essa aprovação vai DE encontro a tudo o que o movimento sindical defendeu historicamente. Além de ser uma clara capitulação frente à concepção estabelecida pelo sistema patronal, prejudica inclusive a saúde da categoria bancária, visto que um dos principais motivos de sofrimento e adoecimento desses trabalhadores é o assédio moral/violência organizacional provocada pelo estabelecimento de metas absurdas.

Dêem uma lida em no texto abaixo (resumo de um email), o primeiro que recebi após a polêmica aprovação. Nos próximos dias, vou procurar enriquecer esse debate com outros textos.


Quem nos salva da bondade dos bons?

O que gostaria de chamar a atenção foi para o resultado de o debate mais relevante deste fórum. (...) tivemos uma votação infeliz, tema do meu constrangimento, que colocava na pauta das renvindicações a contratação sobre a renda varíavel.Para quem não é bancário: o empregado ganha mais se vender produtos e sobre este ganho incide o FGTS, férias, 13°,etc. Implica dizer que no mínimo, se não o fizer, não receberá o adicional e, portanto ficará fadado ao salário básico garantido pela legislação.Além disto sofrerá ainda mais com a pressão psicológica do banqueiro que irá cobrar sobre esta venda ou sua falta.


Penso que nossas ações deveriam correr outro curso: lutarmos para o fim das metas,a favor do aumento real de nosso salário, garantindo mais tranquilidade ao exercermos nossa profissão sem “bafo na nuca”, pois de outra maneira, estamos entranto na cantilena da pós-modernidade, onde alguém sabe que seu sustento depende da venda de produtos e consequentemente terá problemas de saúde que amplia o campo de atuação desde o psicológico, até a ler/dort (por causa da velocidade com que tem que fazer tudo para produzir), e tantos outros já conhecidos.


Segundo a articulação bancária, influenciada pelo pensamento positivo, isto é “bom”, pois vai regrar os abusos dos bancos e os sindicatos poderão fiscalizar o que já acontece.(...)


Na minha opinião, isto parece mais uma política da inevitabilidade, da descrença da luta pela qual estamos nos sindicatos e mais, parafraseando o que foi dito na conferência “esta é a política do: já que o estupro é inevitável, relaxa e goza”, afinal não se pode fazer mais nada. Ora, tanto no grupo em que participei, quanto das conferências por bancos, vi, no mínimo, dezenas de companheiros lesionados, com depressão por pressão do seu gerente e soube até sobre suicídio na categoria. Qual a razão? A já citada fragmentação do mundo do trabalho e o uso da tecnologia para fazer o trabalhador estar em todos os lugares ao mesmo tempo, refletido na categoria em pressão por metas.Para piorar a situação, no momento da perícia (INSS/“nosso governo”), os trabalhadores são desrespeitados, como se estivessem mentindo sobre sua saúde e ainda, quando voltam pra os locais de trabalho, tentam sobreviver à condição de penúria.


Desta maneira, na segunda-feira, por mais que discutíssimos sobre o que poderia ser feito para ajudar os companheiros adoecidos, a principal ferramenta que causa esta dor, já havia sido aprovada pelo “martelo da bondade” vinte e quatro horas antes pela Artban e sua “carta de intenções”.


Marcelo Caon (diretor do Sindicato dos Bancários de Caxias do Sul e historiador)