Hebe se irrita com pergunta e Ivete se cala em ato | |
Sexta, 17 de agosto de 2007, 15h32 |
O público - as estimativas variam de duas a cinco mil pessoas - segundo a Polícia Militar, ocupa a Praça da Sé, no centro de São Paulo. Ali estão todos divididos em dois grandes grupos. O palco, de costas para a Catedral da Sé, dentro da qual a realização do protesto foi vetada pela Arquidiocese, separa a multidão de homens, mulheres, negros e brancos, ricos e pobres. Na escadaria da Catedral, sentados e com guarda-sóis, senhoras maquiadas, homens de terno e jovens de óculos escuros de grife.
Aos poucos, os artistas chegam. Com eles os gritos de "Fora imprensa", em direção a repórteres e cinegrafistas que impedem o povo de cumprir o objetivo principal de estar ali: ver as celebridades.
- E o Paulinho Vilhena, não vinha? - pergunta a jovem de câmera em punho.
- Quem é aquele ali? - questiona outro.
Hebe Camargo chega. Camiseta com a bandeira do Brasil e mais um par de óculos de grife. Gracinha de sorriso.
Hebe não contava com a pergunta ácida de um cidadão que se recusa a sair da "área vip", com argumento de que está em uma praça pública:
- E o Maluf, que você apoiou tanto tempo?
Irritada, Hebe põe o dedo em riste:
- Eu cresci às minhas próprias custas, às custas do meu trabalho.
O cidadão é o engenheiro José Carlos Caldeira Braga, de 70 anos. Usa um broche com as bandeiras do Brasil e da Venezuela. É ironizado pelos advogados, conselheiros da OAB-SP e outros elegantes senhores da "área vip":
- Vou até tirar uma foto. Vira pra cá, ô Evo! - Confundindo o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, com o da Bolívia, Evo Morales.
Luiz D'Urso, presidente da OAB-SP, discursa. Reitera que o movimento é apartidário. Pede solidariedade às famílias das vítimas do vôo da TAM a 5 minutos das 13h. Os familiares das vítimas, como relata Vagner Magalhães, do Terra, sentiram-se "usados" no ato. Leia mais aqui.
Continuam as reclamações do público com os repórteres, que tapam a visão para as celebridades.
Um minuto de silêncio. Seguem preces e orações. Um padre, um rabino e um pastor metodista. Agnaldo Rayol canta o hino nacional. Sem Ivete Sangalo, como havia sido anunciado, para frustração geral.
Ivete que, em 2001, participou de abaixo-assinado em apoio ao senador Antonio Carlos Magalhães, quando este violou o painel de votação do Senado (leia aqui trecho do documento). A cantora costumava também fazer reverências a líderes carlistas na passarela do Campo Grande durante o Carnaval de Salvador.
Um tímido "Fora Lula" é puxado por alguns. É abafado por um "Viva o Brasil". Algumas fotos no palco e as celebridades começam a sair. Os manifestantes da praça da Sé deixam o chão para subir em escadas, pilares e muretas.
Hebe vai deixando o ato. É questionada se a sociedade, os pobres, estão participando do movimento.
- Tá todo mundo aí. - responde, ainda com um resquício de mau humor diante das perguntas.
Sai Ivete Sangalo. Impossível chegar até ela. Muitos querem tirar fotos. Um cidadão quer entregar uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Não consegue.
No corredor de isolamento que ligava o palco à sede da OAB, a uma distância de cerca de 400 metros, os artistas se despedem. Um conselheiro da Ordem conversa com outro:
- Foi bom, né?
- Só foi ruim por causa da Ivete. Podia ter cantado uma, né?
Hebe Camargo entra em seu Mercedes e se despede do povo. Deixa chorando uma humilde senhora, que se cansou de esperar para cumprimentá-la.
2 comentários:
Parabésn Caldeira. Pela coragem e pela ousadia. Qualquer ato neoliberal e reprisado e reprisado pela grande imprensa. Vamos mostrar a nossa cara!
Oi, Marcos:
A "gracinha" da Hebe e seu coro composto por Ana Maria Braga e Regina Duarte, também estiveram recheando as páginas de Caras em razão do casamento da filha do Geraldo. Realmente elas devem estar cansadinhas, afinal é tanta badalação.
Guri, obrigada pela visita lá na minha nova morada.
Abraço!
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