quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Quem nos salva da bondade dos bons?

No último fim de semana aconteceu, em São Paulo, a Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramos Financeiro. O encontro é preparatório à campanha salarial (a data base dos bancários é 1º de setembro).

Dentre as resoluções, a aprovação da contratação da renda variável. Para que conhece o assunto, sabe o quanto ele é polêmico. Para mim, essa aprovação demonstra o quanto é necessário que o movimento sindical recupere suas referências, pois essa aprovação vai DE encontro a tudo o que o movimento sindical defendeu historicamente. Além de ser uma clara capitulação frente à concepção estabelecida pelo sistema patronal, prejudica inclusive a saúde da categoria bancária, visto que um dos principais motivos de sofrimento e adoecimento desses trabalhadores é o assédio moral/violência organizacional provocada pelo estabelecimento de metas absurdas.

Dêem uma lida em no texto abaixo (resumo de um email), o primeiro que recebi após a polêmica aprovação. Nos próximos dias, vou procurar enriquecer esse debate com outros textos.


Quem nos salva da bondade dos bons?

O que gostaria de chamar a atenção foi para o resultado de o debate mais relevante deste fórum. (...) tivemos uma votação infeliz, tema do meu constrangimento, que colocava na pauta das renvindicações a contratação sobre a renda varíavel.Para quem não é bancário: o empregado ganha mais se vender produtos e sobre este ganho incide o FGTS, férias, 13°,etc. Implica dizer que no mínimo, se não o fizer, não receberá o adicional e, portanto ficará fadado ao salário básico garantido pela legislação.Além disto sofrerá ainda mais com a pressão psicológica do banqueiro que irá cobrar sobre esta venda ou sua falta.


Penso que nossas ações deveriam correr outro curso: lutarmos para o fim das metas,a favor do aumento real de nosso salário, garantindo mais tranquilidade ao exercermos nossa profissão sem “bafo na nuca”, pois de outra maneira, estamos entranto na cantilena da pós-modernidade, onde alguém sabe que seu sustento depende da venda de produtos e consequentemente terá problemas de saúde que amplia o campo de atuação desde o psicológico, até a ler/dort (por causa da velocidade com que tem que fazer tudo para produzir), e tantos outros já conhecidos.


Segundo a articulação bancária, influenciada pelo pensamento positivo, isto é “bom”, pois vai regrar os abusos dos bancos e os sindicatos poderão fiscalizar o que já acontece.(...)


Na minha opinião, isto parece mais uma política da inevitabilidade, da descrença da luta pela qual estamos nos sindicatos e mais, parafraseando o que foi dito na conferência “esta é a política do: já que o estupro é inevitável, relaxa e goza”, afinal não se pode fazer mais nada. Ora, tanto no grupo em que participei, quanto das conferências por bancos, vi, no mínimo, dezenas de companheiros lesionados, com depressão por pressão do seu gerente e soube até sobre suicídio na categoria. Qual a razão? A já citada fragmentação do mundo do trabalho e o uso da tecnologia para fazer o trabalhador estar em todos os lugares ao mesmo tempo, refletido na categoria em pressão por metas.Para piorar a situação, no momento da perícia (INSS/“nosso governo”), os trabalhadores são desrespeitados, como se estivessem mentindo sobre sua saúde e ainda, quando voltam pra os locais de trabalho, tentam sobreviver à condição de penúria.


Desta maneira, na segunda-feira, por mais que discutíssimos sobre o que poderia ser feito para ajudar os companheiros adoecidos, a principal ferramenta que causa esta dor, já havia sido aprovada pelo “martelo da bondade” vinte e quatro horas antes pela Artban e sua “carta de intenções”.


Marcelo Caon (diretor do Sindicato dos Bancários de Caxias do Sul e historiador)

Nenhum comentário: